“Parece que a zabumba tem uma magia que, quando toca, vai dando uma vontade de balançar o pé, depois o corpo, e aí vai embora, ninguém segura. Forró quando bate no coração ninguém para mais, é muito bom!”. As palavras são do sanfoneiro Enok Virgulino que, junto com os amigos e conterrâneos de Pernambuco, Roberto Pinheiro na zabumba e Adelmo Nascimento no triângulo, formam o Trio Virgulino. Criado na década de 80, na cidade de Americana, interior de São Paulo, o grupo ganhou o Brasil e o mundo levando o forró para EUA, França, Inglaterra e Espanha. Hoje, com 35 anos de carreira, eles trazem no currículo diversas canções de sucesso nos 10 álbuns lançados e apresentações ao lado de grandes nomes da música nacional como o mestre Dominguinhos, Elba Ramalho, Caetano Veloso e Moraes Moreira, entre outros.

Apesar do sucesso tocando um ritmo totalmente ligado as suas raízes nordestinas, se engana quem pensa que o conhecimento musical do grupo é limitado ao forró. “A gente não tem preconceito, tocamos forró, mas pra mim Luiz Gonzaga, Beatles, Lenine, Rita Lee, é tudo música”, conta Enok que chegou a montar uma banda de rock no sertão, ensaiando por alguns meses. O rock, aliás, está entre os gêneros que entram no caldeirão do repertório dos shows do Trio Virgulino, em adaptações com o tempero do forró.
Este ecletismo musical, somado a apresentações sempre em sintonia com o público, foi, certamente, o que fez com que eles conquistassem os estudantes da Unicamp e USP, no início da década 90, lhes garantindo o título de “pais do forró universitário”, um movimento que popularizou o ritmo entre os jovens através de músicas com letras mais focadas na realidade dos universitários do sul do país e passos de dança mais elaborados, como em outros gêneros de dança a dois. “Antes de a gente tocar pros estudantes era muito diferente. O povo achava que tocar com sanfona, zabumba e triângulo era coisa de velho, de matuto. Depois que virou universitário mudou tudo e, hoje, é essa coisa que emociona de ver todo mundo dançando, cantando e curtindo com a gente”, ressalta Roberto, considerado um dos melhores zabumbeiros do Brasil.
Músicos de bandas como Falamansa, Bicho de Pé e Rastapé, estavam entre o público destas apresentações do Trio e foram inspirados por eles. “O jovem se identifica com a gente porque a gente também é jovem. Outro dia vi Geraldo Azevedo contando a seguinte frase que ele disse pro Tim Maia: ‘Acho que a gente não vai ficar velho nunca, porque gostamos é de brincar’. A gente também é assim. Pra mim a música é um trabalho, mas também é uma brincadeira gostosa que você vai fazendo e o público vai absorvendo e devolvendo com um carinho maravilhoso. E a coisa só dá certo quando é assim, ou não seria tão bom”, explica Enok.
Mas além da música o grupo também tem um dançarino de plantão. Quando não está no palco, Adelmo deixa o triângulo de lado e se diverte na pista de dança: “No começo da década de 90 eu ia pro forró e as pessoas queriam dançar comigo, mas eu não sabia. Então fui aprendendo, peguei gosto e, hoje, as pessoas já me esperam pra dançar e eu adoro!”. Enok também ressalta o prazer de dançar forró, lembrando da poesia contida em letras como a da canção “Pintou Paixão”. “Dançar pertinho, sentindo o cheirinho dela e dizendo ‘um raio de sol bateu em minha janela, que bom se fosse ela, a flor do meu jardim’. Não tem cantada mais bonita, ainda mais chamegando no forró. Meu pai dançava com minha mãe quando eram jovens, lá no sertão, na década de 40, e já era bom, tanto é que estou aqui”, brinca o sanfoneiro.

Fotos: divulgação e Juciane Dubiel/Forró da Lua Cheia
Confira o alto astral do Trio Virgulino nesta apresentação da música Forró da Musa, com participação especial do Falamansa, que faz parte do DVD de 26 anos do grupo.