O Brasil é culturalmente dividido em dois reinados, um é o do Rei Momo, soberano maioral do carnaval, reinado que vai desde o início do verão até o fim da folia, que nem sempre é na quarta-feira de cinzas. Em país festeiro, de povo alegre e animado uma boa festa dura bem mais que o planejado. Em locais como Recife, Olinda, Salvador e Rio de Janeiro, às vezes a festa se prolonga por um mês, às vezes ultrapassa isso, e vem influenciando outras diversas cidades em todo o país, afinal carnaval é bom mesmo.
Mas Momo, em algum momento descansa e aí começam os preparativos para o novo reinado, afinal, acaba o carnaval e podemos nos preparar para a outra festa popular de importância nacional: os festejos juninos, sobretudo os dias de Santo Antônio, São João e São Pedro.
Deveriam ser eles os novos soberanos? Talvez, mas quem reina mesmo ou deveria reinar por tradição cultural seria Luiz Gonzaga e seus diversos súditos espalhados pelo país.

Embora os festejos juninos tenham tamanho e intensidades diversas, dependendo da região do país, é inegável que Luiz Gonzaga tem importância e representação em praticamente todo território nacional. Se ele está presente em todos os estados da federação e a música tradicional dos festejos é o forró, então é claro que Luiz Gonzaga é o Rei novamente empossado.
Claro que deveria ser assim, mas a realidade não é bem essa, e assim como Momo os festejos juninos também vêm abrindo as portas para outros diversos ritmos. A diferença é que, no carnaval, cada estado tem sua própria tradição, a maioria festeja com samba, alguns com frevo e maracatu, outros exibem até outros ritmos. A capital paulista, por exemplo, tem na multiculturalidade a sua principal característica e apresenta dessa forma seu carnaval, mas no caso dos festejos juninos, essa tendência é um pouco mais complicada.

É difícil pensar em uma festa de São João sem quadrilha, por exemplo. Quadrilha é a dança dos festejos juninos desde que somos crianças, quando recebemos de nossos pais as vestimentas matutas com vestido de chita para as meninas e os bigodinhos de carvão para os meninos, o ápice de uma festa que é sempre muito engraçada. Quadrilha tem, ou deveria ter, um selo de aprovação, este selo deveria ser dado quando a quadrilha dá errado, ou pelo menos quando fica bem confusa, que é justamente quando é mais divertida e animada. Se essa é a dança típica e ápice da festa, então imagina uma quadrilha embalada por axé? Que tal uma música sertaneja como trilha sonora? Um arroxa bem quente fazendo as pessoas entrarem no túnel? Não, definitivamente a música que embala as quadrilhas é o forró ou, como reza a tradição do interior paulista, mineiro e mais alguns, a música caipira, que no fundo no fundo é um arrasta-pé, portanto o Rei é Luiz Gonzaga.

Tudo certo, tudo explicado, momo descansando e as fantasias sendo lavadas, passadas e guardadas esperando a nova temporada de carnaval. É hora de se preparar para o período de Gonzagão! Portanto vá para o forró. É hora de dançar xote, xaxado, baião, forró, coco e, sobretudo, o arrasta-pé, afinal, Gonzaga, o Rei, foi soberano dos festejos juninos durante sua vida e deixou um monte de discípulos que o honram mantendo a tradição com extremo talento e, às vezes, até com ousadia, modernizando o ritmo sem perder as características.